Pão Diário

JONAS, O "PROFETA DE YOM KIPUR"

Yom Kipur, o dia do perdão, é uma das datas mais importantes do calendário judaico. Jejum, muita reflexão e diversas rezas marcam a comemoração. Existem também algumas leituras públicas, feitas nas sinagogas,
 entre elas a do profeta Yona, ou em português, Jonas.
A história é conhecida: O Eterno pede ao profeta que vá orientar o povo da cidade de Ninvê, na Assíria, para que melhore seu comportamento, caso contrário, um grande desastre abaterá a cidade e vitimará seus habitantes.
Yona não gosta da missão e decide “fugir” do Eterno, através de uma pequena embarcação, que o leva para longe da terra santa, pois, aparentemente, de acordo com sua visão, a revelação do Criador só se encontrava na sua pátria. Em pouco tempo chega uma estranha e violenta tempestade que ameaça a embarcação, fazendo com que os tripulantes, após atribuírem a responsabilidade a Yonah, joguem-no ao alto mar.
-Estou perdido – Pensa o profeta, que em questão de segundos é engolido por um gigantesco peixe, dentro do qual se encontra a salvo.
-Eterno! Agora reconheço seu poder e bondade e se for libertado deste cárcere, irei imediatamente para Ninvê, de modo a cumprir a sua ordem.
Dito e feito. Horas depois Yonah, muito agradecido, chega a cidade perversa e cumpre sua missão, convertendo o povo, antes pecador, em sincero penitente.
Mas qual é sua reação após o sucesso? Deitar se no relento e encomendar a própria morte ao Criador.
Que estranho, não é?
De acordo com a maioria de nossos sábios, o motivo da tristeza de Yonah é simples: os habitantes de Ninvê não eram de seu povo e, além disso, seu país muitas vezes representara uma ameaça ao povo de Israel. De certo modo, salvar Ninvê da destruição, seria como evitar que o atual Irã, cujo governo prega o extermínio de Israel e a discriminação contra os judeus, fosse destruído.
De repente Yonah, ainda deitado, sente um frescor: É uma pequena árvore que surge, fazendo-lhe sombra. Ele então agradece ao Criador e volta a cochilar. Em poucos minutos a sombra desaparece e Yonah, incomodado com o Sol, acorda e após constatar que a àrvore murchara, põe se a reclamar da má sorte do vegetal. É então que o Eterno arrebata:
-Yonah! Por que te lamentas tanto por uma planta que murcha, enquanto ignoras dezenas de milhares de vidas humanas e até mesmo uma enorme multidão de inocentes animais que teriam sido vitimados, se não fosse tua intervenção?
Neste ponto termina a história.
Agora, meu caro leitor, proponho-lhe uma reflexão: Qual o motivo de esta profecia ter sido a escolhida para ser objeto de leitura pública nesta data tão importante?
Para esta pergunta, muitas respostas já foram dadas. Agora eu darei a minha:
É sabido que objetivo maior de nossas atividades no dia do Yom Kipur é a Teshuvá, ou seja, o ato de Retornar.
Mas retornar para onde, ou para que?
Na minha visão, o retorno proposto para o dia do Kipur é aquele que nos trás de volta a nossa essência, despertando-nos a percepção de que somos seres espirituais e filhos do Eterno Soberano. Como consequência desta percepção, nos desapegamos da matéria, inclusive nos abstendo de comer e de beber.
Mas como posso medir o nível de meu retorno ao Criador? Como posso saber se estou próximo a Ele e não somente cumprindo o ritual, enquanto apenas anseio pelo retorno?
A resposta se encontra, de forma muito profunda e contundente no texto de Yonah:
Aquele que retorna verdadeiramente ao Eterno, adquirindo consciência de sua origem Divina, automaticamente reconhece esta mesma condição no seu próximo e também no seu “distante”, se preocupando com TODOS os seres humanos, pelo simples e grandioso fato de serem filhos do mesmo Soberano e Eterno Pai.
E nesta profecia, vemos como o texto vai mais longe, incluindo até mesmo os animais, como objetos obrigatórios de piedade, por parte daqueles que reconhecem no Eterno, o Pai de toda criação.
Retornemos a nossa condição Divina!
Retornemos a nossa grande família!
Retornemos ao Eterno!
Shana Tova! More Ventura.